Quando a República das Bananas alimenta o inimigo
(Artigo publicado no jornal O POVO em 23 de junho de 2017)
O transistor impactou o século passado, do radinho transistorizado (mais popular que
Biotônico Fontoura) às estações espaciais. Com ele, a internet/web do genial Tim
Berners Lee promoveu qualquer beradeiro com um celular no coldre a Zé Doidinho nas
redes sociais (ou não parece bizarro terráqueos andando cabisbaixos no maior papo com
suas rapaduras eletrônicas?).
Inteligência Artificial (IA) é a bola da vez. Ela já está em todas: nas propagandas que nos
chegam “coincidentemente” na tela, no reconhecimento de voz, nas plataformas ditas
cognitivas (Watson da IBM, por ex.), nos diagnósticos de “whisk and bowl” (escambáu,
em cearensês) a partir de Big Datas. Estamos na era dos Jetsons (ou será dos
Flintstones?).
Elon Musk, o cara que venceu a NASA, considera a “IA mais perigosa do que a Coreia do
Norte”. Embora haja uma certa lombra na ilação de Mr. Musk, ela serve de alerta para
o perigo do açambarcamento da IA por oligopólios digitais: Google, Facebook, Amazon,
etc. Os recentes escândalos das Fake News, dos robôs russos nas eleições americanas e
na votação do Brexit no Reino Unido provam nossa vulnerabilidade. Ou você acha que
o nosso próximo presidente não terá o voto da mão invisível do mercado … russo?
As gigantes da internet contam ainda com a colaboração inocente-útil de países como o
Brasil. Dou um exemplo: lembro bem, nos anos 80, a Microsoft levando para os EUA a
reca de mestrandos em IA da UFC. Enquanto a mídia comemorava, eu me sentia um
Mozart abraçado por Salieri: imaginava nossos queridos “nerds” fortalecendo as
heroicas empresas locais de TIC. Que nada: mais “bananas” para quem nos vende
tecnologia a preço de ouro!
A fuga de cérebros não parou! Os grandões digitais não perdoam: compram! Nosso país,
craque em “doar” cérebros, precisa de políticas de inovação capazes de manter nossos
talentos na terra e bons exemplos não faltam: o Porto Digital no Recife que concilia
política pública e mística institucional, o extraordinário programa EMBRAPII nos
Institutos Federais, o estímulo à interiorização da pesquisa da FUNCAP, etc.
Necessitamos mais, muito mais, para nos tornarmos uma República do Conhecimento e
pararmos essa mania de alimentar o colonizador!
Mauro Oliveira
Doutor em Informática e Membro do Conselho O POVO de Educação.
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Este artigo é dedicado ao professor e pesquisador ANILTON GARCIA, um desses casos em que o LATTES é uma péssima descrição, dado que se limita a especificações ONTOLÓGICAS (ou nem isso) de competências profissionais, incapaz que é, o Dr LATTES, de traduzir o bom caráter, a energia pra cima, a vontade de ajudar ao redor e fazer crescer o país.