PRISÃO PERPÉTUA … NA IDADE DA PEDRA
(Publicado no O POVO em 08 de fev de 2011 – http://tinyurl.com/PRISAO-NA-IDADE-DA-PEDRA)
Nesse domingo de sol, uma alegria diferente me invadiu, aproveitando o desleixo de um acordar desprevenido. Sem me consultar, acompanhou-me durante todo o dia. Encontrei amigos pelo caminho, entrei em suas casas sem avisar. Contamos piadas, das antigas, rimos com vontade rir! Sonegamos notícias tristes.
Visitei Dona Gelita e nos abraçamos em suas lembranças. Deitei-me em seu colo “pena de ganso” e cochilei ao ritmo dos cafunés de seus dedos ferrolhos. Revi o livro de meu saudoso pai. Rolou um aperto no lado esquerdo, de um cheiro a mais que não lhe dei. Utilizando suspeitas teorias da física, tentei explicar o assobio do vento ao vibrar renitentes janelas; as crianças riram fingindo acreditar. Terminada a oração do dia, entre crentes e saudáveis salvaram-se todos!
Li manchetes no jornal ao lado enquanto o farol vermelho cedia lugar ao verde. O sorriso da pobre senhora no sinal, com míseros centavos à mão, seguiu-me no retrovisor do carro, até desaparecer na curva! Pensei nas vezes que não nos damos conta da dádiva da vida que o sol nos anuncia toda manhã e nos chateamos com um “Colgate novo apertado no meio” pela mulher…ou vice-versa.
Agradeci aos céus mais uma manhã de domingo, os amigos que tenho, a amizade de minhas Carolinas! De repente vi um jovem com um andar sem rumo, perambulando ao encontro do nada. Era mais uma das milhares vítimas do crack, provavelmente a pior das drogas, por ser barata e trazer um dano brutal à saúde.
Se você pertence à privilegiada classe dos que não têm nenhum dependente químico próximo, curta mais a vida, “sem muita frescura”. Faça isso pois alguns pais não têm esse direito dominical. Na verdade, traficantes e seus cúmplices hediondos condenam diariamente à prisão perpétua esses pais e suas crianças, quando não à pena de morte. É o crack a nos conduzir, ironicamente, à Idade da Pedra.
Mauro Oliveira
Ex-diretor do IFCE, PhD em Informática